Quando se busca um aprofundamento social, antropológico e teológico numa época como a nossa (pós-cristã) é possível constatar que a sociedade está retrocedendo, e tal constatação encontra sua razão de ser no fato de que nada mais pode ser considerado “verdade absoluta”, tudo então tornou-se “relativo”. A verdade depende, hoje, de muitos fatores, conceitos e de uma quantidade razoável de princípios. Ninguém detém a verdade; cada um estabelece “sua verdade”, assinalando, pois, o retrocesso na história e na forma de pensar, conforme podemos notar no relato bíblico: “Naquele tempo não havia rei em Israel, e cada um fazia o que bem queria” (Juízes 21.25). Nesse sentido é possível dizer que:
1) O último período dos Juízes se caracterizou pela maldade e anarquia. Somente após o reinado de Davi e Salomão houve uma época de unidade nacional. A época atual (pós-cristã) não é uma monarquia, e nem vivemos em um contexto de anarquia, entretanto, a nossa época é marcada pelo individualismo e a famosa frase é: “cada um por si e Deus por todos”. Assim, é possível acreditar que a intenção do autor do livro de Juízes é finalizar seu livro com um versículo que dá a ideia da falta de um rei e suas implicações na vida das pessoas que faziam o que bem queriam, pois um rei estabelece decretos, institui liderança e estipula objetivos. Hoje temos liderança, mas uma liderança pós-moderna, (pós-cristã), na qual se misturam as várias ideologias de interesse de grupos ou de classes.
2) No cenário religioso, também temos observado que o momento histórico já não é como era nos anos 50, contexto em que as pessoas eram mais conservadoras, e não tínhamos artistas, apresentadores, políticos, influenciadores, que se dizem cristãos mas vivem de forma questionável e em choque constante com a concepção cristã de “fé e prática”.
3) O principio ético-evangélico-biblico precisa (sempre) ser observado, pois os cristãos segundo o Evangelho de Jesus Cristo são referências de ética e moral que fazem diferença. Não é incomum ter dificuldade para identificar cristãos verdadeiros. Grande parte dos cristãos que diz crer em Deus e que frequenta uma igreja evangélica, não pode ser considerada um divisor de águas, manifestando um “bom testemunho”. Há uma crise de valores no domínio ético-moral entre os cristãos, e mesmo assim, tudo parece ser normal e natural, indo na contramão do que diz o apóstolo Paulo: “não se amoldem ao sistema desse mundo” (Romanos 12.2).
4) Quanto ao princípio hermenêutico, no que diz respeito à interpretação bíblica, atrevo a dizer que hoje muitos interpretam a bíblia do ponto de vista particular e meramente pragmático, sem considerar as regras concernentes à hermenêutica, tais como, a gramática, a história, a cultura, a política, a economia da época — contexto. Nesse sentido e por causa disso, infelizmente, as pessoas passam a viver as suas vidas cristãs irrefletidamente: sem compromisso com os valores do Reino de Deus, sem princípios, sem “bom testemunho”, dificultando assim reconhecer ou identificar qual é o perfil do cristão nos dias atuais.
Concluo com uma pergunta: Somos, de fato, uma geração pós-cristã, ou nunca entendemos, de verdade, o que é ser cristão?

AUTOR/EDITOR/PROFESSOR – Sandro Pereira é licenciado em Ensino Religioso pela FATES. Bacharel em Teologia pelo STBSB. Mestre em Divindade pelo COHEN UNIVERSITY. Doutor em Ministério pelo COHEN UNIVERSITY. Doutor em Ministério pelo Seminário Servo de Cristo. Posdoutorando em Teologia Prática pela ULAC. É pastor titular da Igreja Batista Filadélfia São Luís/MA
Gloria a Deus pelo texto.