A doutrina do nascimento virginal de Jesus é motivo de muitas controvérsias, principalmente nos últimos tempos onde uma geração marcada pela incredulidade oriunda do desconhecimento tem conseguido cada vez mais espaço para falar e ser ouvido por um grande grupo de pessoas.
Naturalmente o avanço do pensamento crítico e a capacidade de opinar são benéficos para a humanidade e é justamente aí que encontramos os fundamentos para falar sobre a doutrina do nascimento virginal de Jesus, pois não somente a fé, mas a própria razão nos dá motivos para entender da forma devida como esse nascimento faz todo sentido na narrativa bíblica.


O nascimento de Jesus a partir de uma moça virgem (Lc 1.26-35) faz um claro paralelo com a criação do mundo, pois são duas ocasiões onde Deus começa tudo do nada, porquanto assim como o mundo começou apenas pela ordem do seu poder, a concepção da virgem sem a participação do homem aconteceu pela ação do mesmo poder.
Ademais é válido perceber que o Espírito Santo que foi o agente sobrenatural da concepção da virgem é o mesmo Espírito Santo que preparou a terra sem forma e vazia (Gn 1.2) para ganhar vida e eclodir numa criação multiforme, cheia de cores, formas, sons e movimentos.


A dificuldade dos céticos em aceitar estes fatos não se dá somente por falta de fé na doutrina bíblica, mas por usar a razão de forma equivocada, pois devido a sua concepção “ex nihilo nihil fit” sobre a origem da vida predominar em seus argumentos eles terminam por limitar o uso da própria razão para entender o modus operand da concepção virginal de Jesus.


A mesma lei racionalista que diz que “do nada nada vem” (ex nihilo nihil fit) usada para descartar “a hipótese de Deus” para explicar a origem do universo contradiz o argumento dos próprios céticos, pois se “do nada nada vem” tudo que sobra é o nada, mas como a realidade contradiz esse argumento algo precisa ser autoexistente e ter poder em si para fazer algo existir.


Com exceção dos solipsistas mais obstinados, é praticamente consensual entre todas as demais pessoas que algo na eternidade foi necessário para dar origem ao mundo, isto para não ferir a lei elementar da não contradição, pois afinal o que não existe não pode criar a si mesmo e assim se tornar o seu próprio criador, portanto, é inevitável a presença de um agente externo.


Os mesmos céticos que fazem uso da razão para negar a existência de Deus como o criador de todas as coisas contradizem um dos maiores expoentes do uso da razão, Aristóteles que não fez uma defesa do Deus judaico-cristão mas reconheceu que a origem de todas as coisas está em um motor imóvel como a origem de todas as coisas, mostrando mesmo que de forma parca, uma consciência da revelação geral de Deus.
Diante destes fatos é racionalmente aceitável entender que a concepção virginal de Maria tem como origem o mesmo poder criador do mundo, contudo, nesta ocasião o propósito era para que a deidade do Cristo encarnado fosse manifesta entre os homens através da concepção miraculosa do Espírito Santo e sua plena humanidade fosse estabelecida através de Maria.


A gravidez de Maria, portanto, seguiu o mesmo “modus operand” da criação, pois assim como no princípio Deus criou o mundo “ex nihilo”, ou seja, tendo apenas Ele próprio como existência, o restante era “nada absoluto”, a concepção de Jesus no ventre de Maria de igual modo se deu fora do padrão humano de concepção, mas por uma ação divina sobrenatural à semelhança do que foi feito na origem do mundo.
A concepção de Jesus é a confirmação das palavras do anjo Gabriel a Maria de que para Deus nada é impossível (Lc 1.37), um dogma que separa os que tem fé e razão dos que se apoiam apenas na razão, motivo pelo qual não conseguem compreender os mistérios que estão inegavelmente presentes no mundo, mas que são compreensíveis em grande medida quando são interpretados adequadamente.


O nascimento virginal de Jesus é uma doutrina divisória entre cristãos ortodoxos e liberais, por isso é muito salutar que todos os cristãos que confessam a Jesus como Salvador conheçam essa doutrina como de fato ela é, não envolta em misticismo ou em respostas evasivas.

Otoniel Oliveira
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