Comentário

Laodicéia em determinados aspectos era exemplar em sua época, mas a sua referência tornou-se um alerta para eles e para igreja hodierna. A prosperidade de Laodicéia vinha de sua famosa produção de vestimentas e colírio, sua fama e produtos trouxeram-na uma notória independência. Eram tão expressivas as posses de Laodicéia que seus habitantes chegaram a recusar ajuda de Roma e usar seus próprios recursos para reconstrução após um terremoto[1].

O ponto fraco em sua alta reputação, no entanto, era o suprimento de água que não era próprio e chegava morna por aquedutos vindos de fontes termais a 8 km de distância[2]. Cristo usa a realidade econômica, produtiva e geográfica da cidade como ilustração para apontar desaprovação em relação ao caráter da igreja.

Primeiro Ele compara a igreja diretamente as águas mornas da cidade (v 15). A ideia é indiferença em relação a Ele[3] (nem frio, nem quente) e tal situação é tão incômoda e reprovável para Cristo que a expressão usada é a rejeição natural da ingestão de água morna: vomitar. Em seguida Ele compara de forma antagônica as riquezas e produtos de Laodicéia a própria nudez, cegueira e pobreza da igreja perante Ele (v 17). O fato é que a igreja precisava de arrependimento por refletir um caráter autossuficiente e orgulhoso da cidade em que se localizava.[4]

A figura de Jesus à porta e sugestão de uma ceia (v 20) em uma condição em que Ele seja recebido. Traz à evidência a negligência da igreja e o distancimento que havia entre ambos. A ceia nesse caso, como costume de relevância da época, tinha um peso e expressão de comunhão, estabelecimento e consolidação de laços entre família e amigos. Uma comunhão que infelizmente não existia.

Apesar do comum engano em sua aplicação generalizada, esta mensagem é direcionada especificamente a igreja de Cristo (v 14, 22) e não a pessoas que o desconhecem como alguém que precisa ser evangelizado. Isso nos leva a percepção do risco eminente de autossuficiência em ocupações na vida cristã. Muitas vezes com intuito de atender demandas, ou até mesmo com desejo de prosperidade, boa conceituação e independência. A ideia é que a busca do crescimento e prosperidade saudável em todos os sentidos seja possível, desde que Cristo seja o meio, motivo e o centro de tudo.

Gênero Literário

Carta, Apocaliptico, Profético – O gênero literário do Apocalipse pode ser visto como uma combinação única. Pois é um escrito endereçado às 7 igrejas da Ásia, assumindo a estrutura e formato de uma carta. Tem aspectos de uma literatura apocalíptica, em sinalização de eventos vindouros e também proclamação da palavra de Deus (Profecia) para uma situação contextual da igreja[5]. Stuart e Fee confirmam esses 3 gêneros literários que compõe o Apocalipse:

Assim como acontece com a maioria dos demais gêneros bíblicos, a primeira chave à exegese do Apocalipse é examinar ó tipo de literatura que é. Neste caso, no entanto, enfrentamos um tipo diferente de problema, porque o Apocalipse é uma combinação sem igual, finamente harmonizada, de três tipos literários distintos: o apocalíptico, a profecia, e a carta.[6]

Teologia

Eclesiologia e escatologia – Em aspectos eclesiológicos, podemos observar uma mensagem dirigida a uma igreja que já não tinha a Cristo como seu fundamento. A centralidade, dependência e suficiência de Jesus é o que marca de forma definitiva a igreja de Cristo (Cl 1:18). Num escopo escatológico, temos para os vencedores (v 21) (o remanescente fiel, que acolhe a mensagem) uma promessa de coparticipação no triunfo e reinado de Cristo, logo, uma das posições teológicas apresentadas está relacionada as coisas vindouras, mas como encorajamento para lealdade e perseverança da igreja no presente.[7]


[1] BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida, 1979. p. 2227

[2] Ibidem., p. 2227

[3] STERGIOU, Costas. Theword: Bible Software. Version 5.0.0.1450. [s.l.: s.n.], 2015. 1 CD-ROM.

[4] BRUCE, F. F. Op. Cit., p. 2227

[5] FEE, Gordon D; Stuart, Douglas. Entendes o que Lês?: Um guia para entender a Bíblia com o auxílio da exegese e da hermenêutica. São Paulo: São Paulo, 2003. p. 221

[6] Ibidem., 2003, p. 218

[7] BRUCE, F. F. Op. Cit., p. 2212

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