Ungis-me a cabeça com óleo… Sl 23.5

Para entendermos devidamente o que o rei Davi queria dizer com isso é importante observarmos qual a origem e a razão dessa prática no AT.

Significado do termo: 

A palavra ungir tem origem no verbo hebraico masah o mesmo que deu origem ao substantivo próprio Messias. O sentido mais antigo do termo estava relacionado à prática de alisar/esfregar óleo ou gordura em alguma parte do corpo com a mão ou mesmo a prática de untar bolos com algum tipo de gordura (Lv 7.12).

Objetos também aparecem como ungidos, mas se tratava apenas da prática de untá-los com algum tipo de betume (Is 21.5) ou tinta (Jr 22.14), usando igualmente o verbo masah. Portanto, inicialmente não havia relação entre o termo masah e o conceito messiânico, foi somente à medida que a revelação de Deus progrediu que este termo passou a ter um significado relativo ao Messias.

Uso do óleo na cultura hebraica:

Não somente na cultura hebraica, mas em todo o mundo antigo o óleo ocupava um lugar central em várias áreas da vida particular e coletiva; alimentícia, econômica, social e religiosa. Na sociedade hebraica era um componente vital na culinária (1 Rs 17.12), assim como tê-lo em abundância era sinal de prosperidade (Jl 2.19) e oportunidade de dar vazão à vaidade (Rt 3.3).

Seu uso medicinal também era comum porquanto era usado como medicamento terapêutico quando se esfregava nos enfermos ou quando se dava banho com óleo morno (Is 1.6, Tg 5.14). De modo semelhante tinha um uso religioso, pois normalmente era usado em ritos de cura (Lv 14.15-18) e nas ocasiões especiais (1 Sm 10.1).

Diante da importância que ganhou desde o início da formação da sociedade israelita, o óleo passou a ter um papel fundamental na vida religiosa e civil de Israel de modo que à medida que a relação de Deus com eles foi se desenvolvendo, o óleo passou a ser um símbolo do Espírito Santo no meio deles, como meio de santificação (Ex 30.29,30), revelação (1 Sm 16.12,13), iluminação (Ex 35.28, Lc 12.35,36), dedicação (Ex 40.9-11) e cura.

O óleo e o ato de ungir: 

Progressivamente o óleo foi ganhando importância e um lugar central na religiosidade dos israelitas, de modo que o ato de ungir logo passou a ser o símbolo usado para separar alguém ou algum objeto para um fim religioso, por isso que ele aparece tão frequentemente no AT. No entanto, não se encontra no seu uso nenhuma menção a poder miraculoso ou sobrenatural; como inúmeros outros símbolos, este também sempre foi uma sombra da separação definitiva que viria no porvir, promovida pelo próprio Messias, o ungido de Israel.

Deste modo, o óleo destinado à prática de ungir objetos ou pessoas foi se tornando cada vez mais especial sendo composto com especiarias especificamente destinadas para esse fim (Ex 30.22-25), porquanto seus componentes representavam o que havia de melhor (Dt 8.8), de bom (1 Rs 17.12-16), de forte (1 Cr 12.40), daquilo que era capaz de curar (Is 1.6), capacitar (Sl 92.10), fazer prosperar (2 R 4.1-7) e de trazer as bênçãos divinas (Sl 23.5, 133.1,2).

Isto tudo certamente eram figuras do Espírito Santo que foram usadas por Deus para ensinar seu povo a respeito de sua presença entre eles, conduzindo- os deste modo para a revelação mais madura que estava sendo preparada em dias futuros como foi predito por Joel (2.28), testemunhado por Pedro (At 2.16-

  • e que marcaria o final da era dos símbolos e o começo da era onde a revelação já seria plenamente satisfatória.

A importância do derramamento de óleo no AT estava no fato de que este ato simbolizava a destinação do objeto (tabernáculo, utensílios, etc) ou a escolha de uma pessoa para determinado ofício (reis, sacerdotes) pois estes normalmente ocupavam uma posição mediadora entre Deus e os homens, de maneira que a unção com óleo implicava que tal escolha fora aceita por Ele.

A mensagem de Sl 23.5: 

A unção fala das boas vindas ao rei na presença de seus adversários;

Significava um relacionamento íntimo entre o rei e Deus;

Pessoas importantes eram honradas nos banquetes com óleo sobre a cabeça;

Era a evidência de que Deus lhe havia dado triunfo diante dos inimigos;

O cálice transbordante fala da provisão abundante de Deus.

Aplicação de Sl 23.5 para hoje:

Não estamos sozinhos na batalha contra nosso adversário;

Nossa comunhão com o Senhor nos faz atravessar o vale da sombra da morte em segurança;

A presença do Espírito Santo em nossas vidas (ungis-me a cabeça…) mostra nosso valor diante do inimigo;

Mostra ainda que pelo Espírito Santo triunfaremos diante dele; A provisão de Deus será sempre presente e abundante;

Como pessoas separadas (ungidas, “masah”) por Deus nos identificamos com o Messias nosso salvador, de modo que nossa vida sempre vai convergir para Ele.

Otoniel Oliveira
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