Escrever sobre os desafios pastorais parece fácil, mas não é. Alguns desafios: 1.O chamado pode se tornar uma profissão; 2.A prática pastoral pode se transformar em gerência administrativa eclesiástica; 3.O gabinete de aconselhamento pode se transformar em escritório de eventos. Provavelmente os desafios são resultados de uma crise, uma crise de identidade.

Hoje é comum o pastor ser gerente e o gerente ser pastor. As prioridades caminham em direções diferentes. O gerente valoriza programas, o pastor valoriza pessoas; o gerente valoriza produtos, o pastor valoriza propósitos; o gerente valoriza controle centralizado, o pastor valoriza envolvimento geral; o gerente valoriza benefícios e vantagens, o pastor valoriza bênçãos; o gerente valoriza dinheiro, o pastor valoriza amor; o gerente valoriza emprego, o pastor valoriza vocação; o gerente valoriza cargos, o pastor valoriza voluntários; o gerente valoriza produção, o pastor valoriza provisão; o gerente valoriza sistemas, o pastor valoriza salvação e comunhão; o gerente valoriza métodos, o pastor valoriza a Bíblia; o gerente valoriza gerenciamento, o pastor valoriza discipulado; o gerente valoriza competição, o pastor valoriza compaixão; o gerente valoriza lucros, o pastor valoriza vidas; o gerente valoriza números, o pastor valoriza espiritualidade; o gerente valoriza marketing, o pastor valoriza testemunho; o gerente valoriza imagem, o pastor valoriza ética; o gerente valoriza organização, o pastor valoriza organismo.

De tempos em tempos, estudo e pesquiso alguns modelos de “gerência eclesiástica”. É interessante conhecer melhor o assunto, descobrir o que outros pensam o que os líderes buscam o que as igrejas modernas estão fazendo.  O intrigante mesmo é descobrir que muitas crises são geradas quando a vocação é trocada pela gerência, o pastor pelo gerente. Acho que a tentação é forte, números impressionam.

Faz algum tempo que aprendi a lidar com “gerência versus vocação”, por conta de uma avaliação silenciosa que fiz impulsionada por uma situação que envolveu um grupo de oração no lar da igreja que sou pastor. Não posso deixar de mencionar como é bom o pastor participar desses grupos. Já tive experiências marcantes, que acontecem especificamente nesses cultos. Presenciei uma alegria que não é comum em cultos no templo talvez pela informalidade dos lares.  Mas sobre o grupo de oração, com ele, aprendi que não é preciso criar nomes, siglas, que geralmente são concomitantes aos sistemas de gerência. Certo dia, provoquei uma conversa com uma irmã que abre sua casa semanalmente para um destes grupos. A conversa que foi por mim provocada tinha o objetivo de dar ao grupo uma sigla [destas conhecidas em sistemas de gerência], acreditei que minha tentativa de formalizar era boa, organizar melhor o grupo, coisa de gerente, que quer nome em tudo. Como fui infeliz. No final da conversa senti no meu coração que não fiz bem, minha querida irmã não ficou contente, mesmo sem expressar, ela ficou frustrada, pude sentir. Não era o tipo de conversa para uma reunião tão simples e que há muito tempo era espiritualmente agradável e rica. Sigla? Por que isso?  Aquilo ficou martelando minha cabeça, tirou meu sono, me deixou triste, fiquei com o coração pesaroso. Uma de minhas ideias compartilhadas era a de propagar tal “sigla” na paróquia, a fim de termos mais grupos “siglados”, isso poderia dar certo, mas não era o certo. Fui fisgado pela mesma cilada que tanto mal faz aos líderes modernos: “Fazer para dar certo, sem levar em consideração o que é certo”. Neste caso o certo era deixar como estava – Uma benção. Como me arrependi de falar com aquela irmã abençoada, e com os outros irmãos do grupo. Peixe morre pela boca. No domingo seguinte quando anunciaria as “siglas”, fiz diferente, e fui muito estimulado pelo próprio ambiente de culto, tudo contribuiu. Não fiz nada do que disse que faria e me corrige, só incentivei outros irmãos, que pensassem e buscassem direção para que outros grupos de oração surgissem em casas, por todo o bairro. Minha orientação só foi no sentido de que em cada grupo os objetivos fossem claros: oração; adoração; pregação e alegria com o Espírito Santo. Como pastor, ficaria na retaguarda pastoral, em oração e na participação pontual. A palavra foi muito bem recebida e ao final do culto alguns irmãos compartilharam o desejo de começar seus grupos. Enfim, mesmo que não acontecesse nada, ficaria feliz e aliviado, pois não atrapalhei o que estava sendo tão bem conduzido e que abençoava tanto meu ministério, família e a igreja.

Claro que tenho alguns conceitos e que estou aos poucos melhorando, buscando aperfeiçoamento contínuo, mas, sem invenções. Não quero ser um gerente histórico, liberal, tradicional, neopentecostal, só quero ser eu mesmo e ajudar a igreja que pastoreio a se encontrar no seu contexto. Cada pastor tem seus desafios, cada ministério tem suas particularidades, cada igreja tem suas prioridades e contexto. Um dos Desafios para a Prática do Ministério Pastoral no Contexto Contemporâneo continua sendo o de continuar sendo um pastor simples e atento.

Sandro Pereira
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