É certo que o mister descrito pelo profeta não limita-se a uma experiência evasiva e a um lamento despretensioso vindo dos céus, na verdade trata-se de algo que confunde-se com as entranhas do criador.
Não por partilhar porém de qualquer semelhança com a criatura, mas pela perfeição de seu amor e desvelo, por isso ele manifesta e declara esse amor nos limites da divindade a fim de que o homem minimamente fique a par de sua condição.
O texto não fala de outra coisa entretanto, que não seja a própria irracionalidade comum aos racionais, do instinto perverso de regalar-se e depois privando o dono da festa de participar, abandonar-se nos gozos dos próprios desejos.
Pobre profeta, consciente da ira divina, incapaz de ser pleno no seu grito, via com seus próprios olhos uma geração sucumbir ante a falácia da satisfação meritória que já grassava largamente em seus dias.
Levado pelas lágrimas o desespero corria-lhe pela face, ante a prevaricação dos seus revelada nos atos e afins, por saber que no final de tudo a sapiência que lhes faltava os levaria a lassidão da fé.
O grito que parte dos céus denuncia o desmoronamento do que sustentou Israel até aquele ponto, os fundamentos ruíram, o atilamento já não mais se vê, onde estão os sábios, para onde foram os homens de bem? Pergunta o desesperado.
O que ama tenta se fazer entender, o que percebe isso clama aos seus do perigo que correm, mas seus olhos estão muito embotados com o novo ícone, talvez vindo da Pérsia, do Egito, não sei.
Talvez perguntasse o profeta, não foram esses que prestes a sucumbir nas areias escaldantes do território inimigo, viram pasmados a benevolência divina? Mas porque tanto desprezo? Não foi o livramento suficiente para convencê-los?
Será, diria o profeta, que ser moribundo é parte essencial de toda uma geração, não há desejos, não há sonhos? As satisfações limitar-se-ão em sentir-se parte de um processo, mesmo que este seja caduco?
Dos céus vem a denúncia de que a nobreza de um povo outrora forte, esvaiu-se no sopro de uma brisa, o que dantes parecia firme deixou-se tão rapidamente engodar por Baal que renegou todas as conquistas anteriores.
Pobre Baal, não percebe que a vítima é ele mesmo? Mas fica a impressão que este pobre diabo satisfaz-se em pelo menos estragar a festa de alguns. Já que não deu pra pôr um fim a tudo, que os incautos paguem o que for possível da conta.
Definitivamente isto não é só uma impressão, alguém vai ter que pagar a conta, seja o rei, seja o povo, sejam os sacerdotes, no final parece mesmo que cada um pagou um pouco, sorte dos que tinham com que pagar.
Os que percebem sua insignificância abandonam-se logo nos braços de quem pode ajudar, os heróis costumam ab-rogar-se em suas próprias forças, contudo – a história é testemunha – não costumam ir além das intenções.
Diante deste cenário desolador, fica o profeta, parece que ao lado de Deus, a contemplar a ruína de uma nação que celebra o resultado de suas torpes incursões, aquelas semelhantes a da raposa em busca das uvas.
Que mundo maluco diria o profeta, ser confundido com os mentecaptos, será que este povo não vê que isto é próprio dos edomitas, aquele povo indômito e repugnante? Por que tanta obstinação meu Deus?
Deveras, o evasivo costuma prevalecer sobre a sobriedade, o temporal é preferível em detrimento do eterno, o físico do metafísico, a mesquinhez da abundância, o trivial do profundo, o ter do ser e por ai vai, pensou o profeta.
Como testemunha de tudo isso, Deus viu os anciãos se recolherem acuados em suas próprias insignificâncias, viu os herdeiros destes bradarem o grito de liberdade e viu a sabedoria sucumbir ante a ignorância.
Muito estranho, pois sair das taperas e depois retornar a elas é tão insano quanto incompreensível, para Deus se torna inaceitável, porquanto ao escolherem tal condição, abriram mão de escolher os resultados.
Viu Deus que de fato o homem é assim, mesmo distante, as vezes tem saudades da pocilga que o acolheu um dia, como diria o apóstolo, pobre Israel, pobre Judá, pobre igreja, eis porque o profeta chorou diante de Deus que lhe revelou tais fatos.

AUTOR/EDITOR/PROFESSOR – Otoniel Gomes Oliveira é Bacharel em Teologia pela Faculdade Kurios. Formado em Teologia Pastoral pelo Seminário Cristão Evangélico do Norte (SCEN). Mestrando em Ministério pelo (SCEN). Especialista em Estudo Teológicos pelo Centro de Pós Graduação Andrew Jumper. Treinado em Liderança Avançada e Gestão de Pessoas e Comunicação pelo Instituto Haggai. É professor do SCEN com atuação em teologia sistemática e pastor titular da ICE em Cidade Operária São Luís/MA