A série “The Crown” exibida pelo Netflix nos trouxe um pouco da vida da realeza britânica durante o último século. Na série podemos ver de perto como é a vida da Rainha Elizabeth e sua família. O mais alto padrão social que um ser humano pode desfrutar neste mundo e também os privilégios e o peso de carregar a coroa real.

Na vida real, fora das telas, nós aqui no Brasil não podemos mensurar a grandeza que é fazer parte desta família e tudo o que ela representa. Assistimos algumas reportagens, alguns documentários e basicamente só isso. Mas mesmo assim conseguimos ver a magnitude de tudo que concerne à vida dessa família.

Acho que todos aqui lembram como a TV mundial transmitiu os detalhes do sepultamento do Príncipe Phillip, duque de Edimburgo. Ou, vários anos atrás as notícias sobre a morte da Princesa Diana. E o que falar das cerimônias de casamento? De toda a logística mundial para acompanhar cada detalhe deste sonho de conto de fadas?

Nascer em uma família assim parece ser bom demais! Imagine todo um Reino aguardando com expectativa e entusiasmo a tão esperada notícia sobre o nascimento do herdeiro, aquele que assumirá a coroa e continuará a tradição e a glória do Reino, assim como foi em 1948 com o príncipe Charles e em 1982 com o nascimento do príncipe Willian, filho de Charles e Diana e mais recente com o nascimento dos filhos dos príncipes Willian e Harry.

As pessoas vão para as ruas, pub’s, jardins e praças para comemorar a vinda de um novo possível rei. Enquanto houver um herdeiro parece haver uma coroa!

O texto lido hoje relata a notícia sobre o nascimento da realeza. Nesses versículos temos a narrativa de como o nascimento de Jesus foi anunciado pela primeira vez aos homens, ao mundo. Percebam que o texto diz que o anúncio do nascimento do Príncipe da Paz, do Rei do Universo foi feito sem a pompa britânica, sem plateia aglomerada, não foi anunciando a um grupo elitizado de ricos e poderosos, mas feito a um grupo simples, isolado, no meio da noite, sem ostentação humana, mas repleto de glória divina.

Quero hoje chamar sua atenção para perceber como o feriado do Natal representa bem mais do que família reunida ao redor da mesa farta, mas nos lembra que a salvação chegou até nós. Significa que o Rei dos Reis foi apresentado a nós e como esse salvador entre faixas e manjedouras deve ser o motivo maior de nossa gratidão no natal.

Vejamos alguns detalhes do texto.

(v.8-9) – O salvador é anunciado àqueles a quem ele veio salvar – Ele é o Salvador do mundo caído, de pessoas caídas, de vida comum, sem excessões.

O versículo ressalta os pastores “que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite”.

Esses homens representam aqui uma classe de pessoas simples, que viviam sua rotina sem muitas expectativas de mudanças políticas ou sociais. Trabalhavam em um trabalho árduo, pesado, ganhavam pouco, não tinham muitos luxos ou caprichos e sequer tinham esperança por dias melhores. E o texto diz que de repente surge um anjo e “a glória do Senhor brilhou ao redor deles”. Algo jamais visto ou imaginado fora do Santo dos Santos do Templo ou que poderia ser vivido além do sumo-sacerdote ou de poucos personagens bíblicos. Homens comuns foram inundados pela glória de Deus

Note que foi a pastores, homens por vezes esquecidos e marginalizados pela sociedade (por causa de sua aparência e cheiro) e não à cúpula do G7 ou no salão oval da Casa Branca ou no Palácio do Planalto, nem aos sacerdotes ou a doutores da Lei que o anjo apareceu com a boa-nova. Um certo rabino do século III escreveu: “Não há ocupação mais desprezível no mundo que a de pastor”. As leis rabínicas de seus dias desprezavam seus testemunhos e sua palavra, assim como a dos ladrões e coletores de impostos. Foi a esses que Jesus foi primeiramente anunciado e isso tem que ter um significado.

Isso implica em afirmar que: A salvação veio ao mundo como uma forma de igualar a todos diante das desigualdades promovidas pelo pecado. Os pastores são os personagens desta narrativa para que o mundo fosse lembrado que nosso Salvador jamais desprezará o mais humilde dos homens e nem fará preferências por aqueles que são mais ricos e poderosos.

(v.10-11) – A graça de Deus é revelada pela Boa-Nova que lança fora o medo e transforma em esperança

Nos dias dos pastores o mundo estava mergulhado em densas trevas espirituais. Não havia profecia, não havia esperança, não havia aparente “mover de Deus”. As trevas que dominavam o mundo desde a queda no Éden estavam espalhadas por todo o lugar, mas a esperança e a salvação haviam chegado para decretar a derrota de Satanás, o fim do Reino das Trevas e a salvação que seria ofertada a esse mundo. Não apenas aos judeus, mas para todo o povo de Deus. Para você, para mim, para todos os filhos de Deus espalhados por esse mundo!

É por isso que Jesus leu com tanta ousadia Is 61.1-2 na sinagoga em Nazaré sabendo que essa era sua missão neste mundo. A salvação veio à terra para que os homens, o povo escolhido de Deus, sentissem o seu amor e a sua graça.

A salvação do mudo estava agora visível no homem Jesus, a promessa havia se tornado real, todo olho poderia claramente ver e toda mão poderia tocar. A maior de todas as “boas-novas” veio sobre esse mundo: Nasceu o Redentor! O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! O Verbo se fez carne e habitou entre nós!

Essa é uma notícia bem maior e bem mais importante do que qualquer coisa sobre a família real. Essa é a maior notícia de todos os tempos.

O versículo 11 tem um peso teológico tremendo para toda a humanidade e merece um destaque aqui:

A mensagem do anjo pode ser assim dividida e melhor compreendida:

Ao falar “hoje” – o anjo está deixando claro um marco temporal neste mundo. No tempo certo, no tempo determinado por Deus, de uma vez por todas, na vida de vocês, para salvação de vocês. Não haverá outro dia nesta existência mais importante para a humanidade que se compare com o nascimento do Redentor. Sua morte e ressurreição fluem desse dia.

O “hoje” falado pelo anjo mostra como o ministério de Cristo está ligado a esse termo pessoal. O hoje do nascimento foi o mesmo dito por Jesus na sinagoga – “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir e também ao lado do ladrão na cruz – “Hoje estarás comigo no Paraíso”. O uso do hoje nos lembra de um dia real, verdadeiro, único em que nosso Cristo nasceu para nos salvar.

O anjo também diz que Cristo “nasceu” – Ele veio ao mundo como homem. Para nos substituir, para interceder em nosso favor, para pagar a dívida que tínhamos como humanidade. Ele nasceu! Ele é real! É o verbo que se fez carne!

Na cidade de Davi – Não apenas uma referência à Belém – a casa do Pão, mas ao centro historicamente declarado pelo povo como sendo o lugar da presença e da adoração a Deus. O Pão da vida, que veio do céu finalmente estava entre os homens para saciar sua fome por eternidade com Deus.

O anjo conclui sua mensagem com três adjetivos que só em Cristo alcançam plenitude. Ele é o Salvador – Ele é o Cristo – Ele é o Senhor.

(v.12) O salvador do mundo estava entre faixas e manjedouras como um sinal para o mundo: Nossa salvação não vem das riquezas que esse mundo pode oferecer

Era de se esperar que alguém do nível anunciado estivesse em um lugar condizente com sua majestade, mas o sinal dado aos homens sobre o salvador quebrava todas as lógicas desse mundo: O ser mais importante da existência estaria em um estábulo, enrolado em faixas e dentro de um lugar onde se colocava comida para animais.

Nos dias de Jesus as pessoas esperavam um Messias que atendessem suas demandas, do seu jeito, um Salvador nos moldes da realeza, mas Cristo veio ao mundo para mostrar que Deus não realiza as coisas conforme nós queremos, mas sim como ele planejou.

Seu Filho veio ao mundo de forma humilde, pois Ele mesmo era o dono de tudo e não precisava de mais nada para provar o seu valor para ninguém. Ele veio entre faixas e manjedouras para demonstrar que ele não precisava do favor dos homens, mas que Ele era a salvação do mundo, o mundo era beneficiado com seu nascimento e sua glória. Aquele lugar era um lugar separado como um sinal ao mundo: O que o mundo realmente precisa, o mundo não pode oferecer! Só o Deus Filho pode dar!

(v.13-14) O primeiro louvor ao Salvador reflete a imensidão de sua glória.

Lucas diz que “subitamente”, algo humanamente inexplicável, mas sobrenaturalmente planejado e possível, surgiu uma grande parte dos exércitos celestes para louvar a Cristo.

Observe que foram os anjos e nãos os homens que entoaram o primeiro louvor a Cristo. Eles estavam celebrando com alegria a nobreza e a majestade do Deus encarnado louvando-o como Supremo Senhor do Universo. Note que o louvor a Cristo não é feito apenas pela humanidade caída que necessitava de um redentor, mas por seres espirituais que o reconhecem como Rei Soberano eternamente Santo.

O conteúdo do seu louvor desperta nosso interesse:

(v.14)

O nascimento daquela criança, sua morte e sua ressurreição glorificariam ao Pai como nunca antes na história da humanidade. Através de Jesus, os atributos de Deus seriam exaltados (sua justiça, santidade, misericórdia e santidade) e toda a criação contemplaria a glória divina. Os anjos cantam sobre essa glória “nas maiores alturas” por saberem que em Cristo, Deus seria exaltado de eternidade em eternidade.

O hino também canta que em Cristo a paz de Deus chegou até os homens. Em Cristo e sua obediência até a cruz a ira do Pai seria apaziguada, sua honra seria reestabelecida e a criatura poderia novamente desfrutar da presença santa do criador.

E agora, entre aquelas faixas e deitado naquela manjedoura a humanidade caída recebia a graça perdoadora de Deus que os levaria o sangue de Jesus como garantia da vitória, da reconciliação, da paz verdadeira.

O hino termina com uma importante mensagem dirigida “aos quais [os homens] Ele concede o seu favor.”, dando uma explicação a tudo o que estava acontecendo ali. A misericórdia divina e a graça de Deus estava repousando naquela manjedoura para ser manifesta a todo o mundo, mas especialmente sobre aqueles a quem Deus escolheu de acordo com sua vontade para receberem a salvação que vem do próprio Cristo.

Esse era o sentido o hino cantado pelos anjos. Felizes são aqueles que fazem parte deste louvor.

Quero finalizar destacando o versículo 20 e um último aprendizado:

(v.20) – A salvação veio ao mundo para que pessoas comuns pudessem glorificar e louvar a Deus por suas promessas cumpridas, sua glória e sua Palavra

Os pastores, que culturalmente eram desqualificados para testemunhar, fedidos ou sujos demais para serem aceitos em alguns lugares e marginalizados pela elite rabínica de seu tempo são os primeiros a testemunharem do poder da Palavra.

Os desqualificados se tornam qualificados para serem os primeiros arautos da boa-nova e contemplarem com seus olhos o Salvador – Messias e Senhor.

Cristo em uma manjedoura, enrolado em faixas já operava mudança de realidades. Eles foram os primeiros missionários, os primeiros servos da Palavra (v.17). Os primeiros que tiveram um encontro transformador com Jesus. Eles seriam um protótipo do que seria a comunidade de Jesus dali a alguns anos. Homens e mulheres que teriam suas vidas mudadas pelo fato de se encontrarem com o Salvador. Mesmo sendo desprezados pelo mundo, Deus haveria de trazer e dar sua paz para seus escolhidos.

O texto termina afirmando que eles simplesmente “voltaram” para seus rebanhos, para sua vida no campo, para sua rotina pesada e cheia de dificuldades, mas agora com uma diferença: Eles voltaram glorificando e louvando a Deus!

O nascimento do menino Jesus e o encontro com Ele deu nova perspectiva de vida para aqueles homens. Eles encontraram a paz, viram o Rei, provaram da Salvação. Esse é o sentido maior daquilo que celebramos neste feriado.

Feliz natal a todos!

Madson Oliveira
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