A maneira providencial como Deus conduziu a história para preservação da sua mensagem é simplesmente algo milagroso. Pois, apesar das variáveis dos acontecimentos durante o tempo, cultura e humanidade, a sua mensagem permaneceu inacreditavelmente intacta.
Devido a essas variáveis, obviamente não seria uma tarefa fácil sintetizar o processo pelo qual os escritos do AT e NT passaram, para termos as Escrituras Sagradas em nosso idioma. Portanto, observando apenas os principais grupos de manuscritos bíblicos, veremos um breve resumo do processo de preservação da mensagem original de Deus, até algumas traduções bíblicas atuais em português.
Os Escritos do Antigo Testamento
A torá ou pentateuco (5 livros iniciais da Bíblia) são os primeiros escritos bíblicos organizados de que se tem notícia. O conceito tradicional e mais prudente aponta Moisés como autor da torá. Alguns outros estudiosos biblistas afirmam que ele foi apenas o organizador do conteúdo, sendo a autoria desses escritos de fato desconhecida.[1]
Moisés teria recebido as informações para compor o primeiro livro da torá (Gênesis) por uma tradição ou “transmissão” oral, além de uma possível escrita existente num período pré-mosaico[2]. Os escritos subsequentes (êxodo, números, levítico e deuteronômio) já fazem parte de um relato vivenciado pelo próprio Moisés e seu sucessor Josué (visto por alguns como um possível autor da torá).
Posteriormente, no decorrer da história dos hebreus, foram acrescentados escritos ao conjunto que mais tarde formaria o Tanakh ou cânon judaico. O texto hebraico/aramaico original foi perdido com o tempo, porém, teve suas cópias rigorosamente preservadas em sua transmissão por milênios e gerações. Pois, a tradição rabínica que norteava os escribas judeus era extremamente rigorosa e minuciosa na custódia e cópia dos escritos do AT.[3]
Mais tarde o Tanakh serviria como base para Texto Massorético, que é uma compilação de manuscritos feita pelos massoretas (renomados escribas judeus), em meados do século VI(6) d.C. O Texto Massorético é composto basicamente por 24 livros com 3 grandes divisões que são: a Torá, os Profetas e os Escritos. Essa divisão, no entanto, contém os 39 livros do AT dispostos em nossas Bíblias com uma ordem e formação diferentes.[4]
Os Escritos do Novo Testamento
No século I, entre o período do nascimento de Cristo e o fim do período apostólico (morte de João, o último apóstolo), o Tanakh era o conjunto de manuscritos utilizados pela comunidade judaica.
Após a morte de João, os escritos em grego (Livros, Evangelhos, Epístolas e Cartas) que mais tarde iriam compor o NT circulavam pelas igrejas em um processo de cópias um pouco menos rigoroso, mas não menos confiável que o desenvolvimento de preservação do AT.
Nos primeiros séculos da igreja, perseguições contribuíram para que os textos autógrafos (originais escritos pelos Apóstolos) fossem sumindo e sendo substituídos por suas cópias com o passar dos anos.
A formação dos principais grupos de manuscritos
No século II da igreja, os autógrafos do NT provavelmente já não existiam em sua maioria. As cópias desses mesmos manuscritos continuavam circulando pelas igrejas e nesse processo até o século XVI(16) os principais grupos de manuscritos do NT: Texto crítico, Bizantino e Textus Receptus foram formados.
O AT até então o Tanakh após o século VI(6) foi compilado e definido como o Texto Massorético que já citamos. Do século XVI(16) até o XIX(19), esse mesmo texto foi reconhecido pelos reformadores como fonte fidedigna para traduções do AT.[6] Já o Textus Receptus, nesse período, serviu como principal grupo de manuscritos para as traduções do NT. Em meados do século XX(20), alguns outros textos passaram a ser considerados para traduções bíblicas que usamos atualmente como: Texto Crítico para o NT e Manuscritos do Mar Morto (Qumran) para o AT. Vejamos a seguir, uma tabela com a Hierarquia da formação dos principais grupos de manuscritos:
1 – Manuscritos Originais do AT e NT (Autógrafos) – as inscrições produzidas pelos autores originais são documentos perdidos. As cópias dos manuscritos do AT chamados de Tanakh eram preservadas a milênios pela comunidade hebraica praticamente sem alterações. A igreja do I século (igreja primitiva) já convivia com os manuscritos do AT. | ||
2 – Manuscritos Alexandrinos (Texto Crítico) – cópias do NT grego provenientes da Alexandria (Egito), são vistos como mais antigos e rústicos gramaticalmente. | 2 – Manuscritos Ocidentais – cópias do NT grego provenientes das regiões da Europa e África, são vistos como “liberais” | 2 – Manuscritos Cesareenses – cópias do NT grego de Cesaréia. |
3 – Manuscritos Bizantinos (Texto Bizantino Majoritário) – cópias do NT grego provenientes da antiga Constantinopla, possuem partes de todos os manuscritos do NT anteriores, foram largamente usados pela igreja dos séculos IV(4) ao XIV(15) | ||
4 – Texto Massorético do AT – por volta do século VI(6) escribas judeus (Massoretas) com base no Tanakh, produziram uma compilação de textos preservados pela comunidade hebraica. | 4 – Textus receptus (texto recebido) – Compilação do NT grego feita por Erasmo de Roterdã, contém partes do Bizantino e serviu como base para as traduções dos séculos XVI(16) ao XIX(19), é visto como um texto mais polido gramaticalmente e tradicional. | |
5 – AT Massorético (e outros…) e NT Texto Crítico. Traduções: NVI, NTLH, ARA, ALM21 e outras… | 5 – AT Massorético e NT Texto Recebido. Traduções: ALMEIDA (Português de Portugal), ACF, ARC, BL, KJF e outras… |
As traduções bíblicas atuais
Atualmente temos traduções bíblicas e protestantes em português baseadas nos manuscritos do AT e NT conforme a tabela abaixo:
AT | NT | VERSÃO EM PORTUGUÊS |
---|---|---|
Texto Massorético + | Texto Receptus = | ALMEIDA (Português de Portugal), ACF, ARC, BL, KJF e outras… |
Texto Massorético e Manuscritos do Mar Morto (Qumran) + | Texto Crítico = | NVI, NTLH, ARA, ALM21 e outras… |
Não podemos negar que existam dificuldades a serem consideradas principalmente em relação às diferenças entre os grupos de manuscritos que serviram como base para as traduções do AT e NT que temos hoje. De fato, a transmissão da mensagem de Deus envolvendo tantas variáveis de tempo, cultura e humanidade trouxeram questões que precisam ser estudadas. No entanto, isso não significa que a mensagem foi comprometida, pois a relevância de sua origem divina leva a inegável isenção de erros.[7]
Essa grande mensagem de Deus navegou pela história da humanidade passando pelas mais diversas línguas, culturas e povos deixando suas marcas e transformações, sendo completamente atual, viva e íntegra, hoje e eternamente.
Bibliografia
AGLADA, Paulo R. B. O Cânon Bíblico.[s.l.: s.n.], […]. Disponível em:<http://www.monergismo.com>. Acesso em: 15 jan. 2021.
BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida, 1979.
GEISLER, Norman L.; HOWE, Thomas. Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bíblia. São Paulo: Mundo Cristão, 1992.
O Texto Massorético do Antigo Testamento. Bíbliateca, [s.l.: s.n.], […]. Disponível em:<http://bibliateca.com.br/SITE/a-biblia-manuscrita/o-texto-massoretico>. Acesso em: 15 jan. 2021.
WAGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento: Manual de Metodologia. São Paulo: Sinodal, 1998. p.42,43,44,45.
[1] BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida, 1979. p. 151
[2] Ibidem., p.151
[3] O Texto Massorético do Antigo Testamento. Bíbliateca, [s.l.: s.n.], […]. Disponível em:<http://bibliateca.com.br/SITE/a-biblia-manuscrita/o-texto-massoretico>. Acesso em: 15 jan. 2021. n.p
[4] Ibidem., n.p
[5] WAGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento: Manual de Metodologia. São Paulo: Sinodal, 1998. p.42,43,44,45
[6] AGLADA, Paulo R. B. O Cânon Bíblico.[s.l.: s.n.], […]. Disponível em:<http://www.monergismo.com>. Acesso em: 15 jan. 2021. n.p
[7] GEISLER, Norman L.; HOWE, Thomas. Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bíblia. São Paulo: Mundo Cristão, 1992. p. 8

C.O.O | AUTOR | EDITOR | PROFESSOR – Fabrício Rodrigues dos Santos é formado em Teologia pelo Seminário Cristão Evangélico do Norte (SCEN). Mestrando em Pregação e Ensino das Escrituras pelo SCEN. Graduando em Gestão da Tecnologia pela ESTÁCIO. Tem formação complementar na área de Homilética pela FABAPAR, Pensamento Computacional pelo SEB/MEC e Cultura Digital na Educação pela MACKENZIE. É e professor da área de estudos bíblicos e analista de sistemas do Seminário Teológico Batista em São Luís (STBSL). Professor da área de teologia prática e gestor de tecnologias e suporte educacional do SCEN. Diretor de Operações C.O.O do Eclesy Digital Mission e atua diretamente em tecnologias e soluções para facilitação da educação com ênfase em estudos bíblicos. Exerce o ministério pastoral na Igreja Batista em Jordoa – São Luís/MA.